Minha terra, meu viver

domingo, 21 de setembro de 2008

Presente

Há um certo tom de felicidade sobre mim. Eis prova viva dela: sorrisos diversos se alternam em minha face! Eu não os controlo nem domino, eles se lançam independente no espaço. E escorrem de mim feito laços, trazendo para mais perto quem eu já não tinha. Meus sorrisos se fazem também em abraços, qualificando minha existência em verdadeira vida.
Há um sopro de paz repousando em minh'alma, sussurrando frases que outrora eu não ouvia. Uma mansidão contagia meus braços, meus pulmões, minhas pernas, minha rima. É um descanso pela inexistência de medos, uma calma pela certeza de bons desejos. Essa paz me inembria de vontade, vontade imensa de emancipá-la para outros ares.
Há uma magia diferente circundando meu ser. Atinge meu olfato, meu paladar, meu tato. Posso me deleitar com seu aroma, me purificar com seu gosto, me transceder com seu contato. Sinto e isso já me basta. Como se os mares navegados d'antes não significassem nada do que eu ainda terei de navegar. Nem a água do passado não é mais a mesma a me banhar, pois o rio nunca é o mesmo (Heráclito). E o mar, então, não poderia ser diferente, é sempre água nova e presente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Do Inesperado.

Do tom séquito,
vem-me o abraço ardente
Salta-me o sorriso poroso
o olhar de ditoso
a mansidão de repente

Congela meu tempo, e o céu
mostra-se mais sutilmente
solta-se um brilho fogoso
um timbre estrondoso
um cantar envolvente

Do som trépido,
vem-me a manhã claramente
sopra-me um vento mimoso
um soar majestoso
uma inspiração tão contente

Tempera meu gelo, e o mar
torna-se em onda corrente
sela-se um azul melindroso
um arco-íris de gozo
uma água em torrente.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A um ausente

Com o tempo, a gente acaba por se acostumar com a presença. Daí, acomoda-se e deixa-se de dizer, recorrentemente, às pessoas que nos são especiais o quanto elas o são. Só no dia em que a ausência faz-se presente, é que se enxerga o vazio e o desperdício dos dias outrora preenchidos.
Com a ausência, não consigo me acostumar. Ela insiste latejando, doendo, machucando. E a dor torna-se pungente e constante e crescente com o passar dos dias, até chegar um que seque a lágrima aflita, só restando a lembrança de bons momentos idos. A esse fenômeno, tão cruel e tão comum, é que resolveram chamar Saudade.
E deve ser isso, então, o que eu sinto agora:
Infinita vontade inebriada de melancolia, por estar tão longe de mim quem eu tanto gostaria...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

De outrora

Gosto do frio preso nas mãos
de cantar e de ser cantada
de ter e fazer uma canção
de abraçar e ser abraçada.

Gosto do sopro sussurador
do olhar soslaio disfarçado
de inventar um mau entendedor
de ouvir tantas vezes meu amado.

Gosto da voz silenciada no beijo
do afago inembriante, surpreso
- E eu quis tanto amor superar!

Gosto dos laços que se tornam dedos
do murmurar de promessas, do ensejo
- Amo, agora, quem não pode voltar.