Minha terra, meu viver

sábado, 24 de abril de 2010

Sedução

-Era você! Do outro lado da rua, fitando sentimentalmente os carros, com aquela cara de agonia de quem quer atravessar a qualquer custo, ou não, de quem quer que tudo pare: "Parem o mundo, me deixem descer". Essa era sua frase preferida, em maio de 68. Em maio de 68, eu nem te tinha ainda, nem te conhecia, não sabia que já tinha esse nome, esses olhos, essas ideias. E já devia ter tanta ideia.... Ideia de como ia ser o mundo, a vida, o destino daqui a 20, 30, 40 anos, sei lá. Você sempre sabe de tanta coisa, sabe de tanto sobre o mundo. Tem uma visão tão linda de mundo, que qualquer agonia para ti é pouco. Pouquíssimo te diria, se te tivesse aqui, do meu lado da rua, do teu lado da cama, do teu braço ao lado do meu... É tão ruim te ver aí, agoniante, inquietante, na verdade. Com esses mesmos olhos estampados e o mesmo sorriso delirante. Ainda que nem me veja, sinto-te me fitar. E o nervosisimo me toma só em saber que naquele lugar respiro o ar que outrora foi tão  teu. Como eu.


Mas isso também foi outrora.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ciranda

Eu tampouco despertei nestes dias
Dias de dissipação
Que me vale mesmo é uma tarde vazia
Só por hoje, ao menos
Dispensaria a inquietação
A inquietude de meus dias
Por um dia só sem aflição
Não gosto mesmo da agonia
Mas na calma também não vivo
Desfio
Tanta linha emaranhada
Na minha saia não tem botão
só tem um fio solto dos meus cabelos
que me descem aos dedos
e se desenrolam no meu chão
Coração tinindo
É tanto Amor
que não me cabe ainda...
Ainda.