Minha terra, meu viver

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O retorno da Rosa

Sentei ao lado dela sem muita escolha.
Era a cadeira que tinha vazia bem na frente...o que eu queria mesmo era sentar na frente, ficava melhor de olhar a rua.
A rua era um todo aberto. Mentira minha, digo aberto porque era assim que a via, como se tudo o mais que nela estivesse aos meus olhos não existisse.
Dia vazio desses. Sem tanto motivo para se estar triste, mas se está.Bem na verdade, motivos eu sempre tenho, desde que minha Rosa me deixou.
Ela partiu há 5 anos e até hoje dói-me com a mesma infinitude.
O sol batia no meu rosto, e assim cedinho pela manhã, eu até gosto que ele assim o faça.
Fico me sentindo mais viva, sabe? Sensação estranha e bucólica, mas muito agradável para mim.
Fiquei lá sentadinha.Paradinha. Mas olhos, cabeça e coração não param. Que coisa!
Fitei logo logo o livreto da mão dela. Ora, nada mais que 'Liturgia Diária'. E eu não conheço?
Costumava ler os de minha Rosa todo santo dia, quando ela deitava após o almoço.
Leitura gostosa de cada tarde, como se eu descobrisse o segredo dela, porque para mim só ela sabia qual a oração adequada para determinado dia.
Boba minha Rosa, eu também o sabia, havia encontrado aquele livreto já a algum tempo na gavetinha da estante. Claro que não revelei. Queria bem mais manter aquele costume de ela me ler e eu ouvir.
Minha fé se fez assim: Eu acreditando que temos de valorizar quem a gente ama realmente.
Quando digo valorizar, digo viver essas pessoas, vivê-las como elas nos são. E sermos verdadeiras com ela.
Boba mesma era eu, e sempre fui, que não quis dizê-la que já conhecia seu segredo, já havia encontrado o livreto. Ela foi achando que eu nunca o havia feito..e não os deixou comigo! Ora, eu havia mentido para ela!
Minha Rosa não queria quebrar o encanto. Fico agora no sentimento dúbio: queria os livros como lembrança ou deixá-la ir acreditando que eu fiquei na magia?
Por 5 anos, pensei que viver na magia seria melhor..esse, de fato, teria sido o melhor caminho.
Entretanto, naquela manhã de sol, sentada naquele ônibus, quando o vi novamente, meu coração saltou.
As lágrimas me vieram prontamente também:
" A senhora pode ler alguma passagem para mim?"
A mulher deu-me o livro e pediu que eu ficasse com ele, porque hoje ela havia me escolhido.
"Este agora é seu, vai e lê com esta fé que te pulsa agora, como se um anjo te falasse cada palavra".

- Meu Deus tão bondoso, como não crê em Ti, que tanto me ilumina e me dá sinais reais de que Tua luz é a minha luz? Tão mais boba eu seria se não Te enxergasse, se em Ti não vivesse, se tão em Ti não fosse feliz.
Oh, meu Senhor, cada dia desses me revela que o caminho seguido é, de fato, o Teu.

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