Minha terra, meu viver

sábado, 4 de agosto de 2007

Transplante

Apoiou as mãos na parede... Os tijolos pareciam vibrar! Na verdade, até a luz mostrava-se tremulada e confusa. Mas estava óbvio que já era dia, o ambiente estava mais iluminado, ela sentia. Viu quadros sinuosos na parede, aquarelas distintas entre espelhos gigantes. Recostou-se num vaso próximo, e esse se mostrou também ser uma novidade, pois ela nunca o tinha visto ali. Afinal, nem ao menos sabia onde estava de fato: aquelas paredes lhe eram estranhas, aquela sala lhe era desconhecida, aquelas pinturas lhe eram irreconhecíveis... Andou por entre os tapetes estendidos no chão, eles eram lindos! Reconheceu aquele desenho bordado aos seus pés, eram os deuses desenhados pela sua avó, a mesma figura da manta que a tão querida velhinha lhe dera antes de falecer.
Lembrou-se da avó, e suas lágrimas revelaram-se quentes.
Fez uma prece silenciosa, mas notou que ela poderia gritar bem alto, parecia estar sozinha ali. E como se dava aquilo? Acordara num lugar desconhecido, decorado com lindos quadros, belos tapetes e vasos magníficos, todos coloridos, desenhados com traços distintos, alternados com espelhos flutuantes. Flutuantes? Sim, eles agora se desprendiam das paredes, pareciam profundos, reveladores de lugares mágicos e pairavam sobre sua cabeça. Olhou confusa ao redor, percebeu o movimento das aquarelas. Ela se mechiam! Os desenhos não eram estáticos, ganhavam vida e forma Parecia sonho, mas ela estava perfeitamente acordada. Loucura talvez? Não, loucura não se dá assim de repente. Passou a mão na cabeça para aliviar aquela confusão, e o que ouviu foi um farfalhar de vozes ao longe.
Correu para o lado oposto da sala:
-Há alguém aí?
Silêncio.
Devia estar escutando coisas. Começava a achar que estava mesmo ficando louca.
Sua voz ecoou minutos depois, num tom diferente e notadamente distinto do seu.
-Há alguém aí?
Mas eco não tarda tanto, há um limite. E aquela era uma voz masculina, grave, que parecia familiar.
Olhou assombrosa para os lados, queria saber quem estava ali, que brincadeira era aquela, que verdade havia em tanta confusão. Viu uma janela mais a frente. Mas a janela há pouco tinha as cortinas fechadas! Agora o sol iluminava lentamente o vidro. Aproximou-se. Seus joelhos, porém, cambalearam quando viu também aproximar-se do outro lado da janela um vulto. Coração disparou, pés travaram, mãos suaram... Não agüentava mais tanto mistério, tanta inquietação, tanta loucura.
Tomou-se de coragem, seguiu adiante. A covardia não iria trazer-lhe sossego.
Aproximou-se lentamente da janela e a abriu devagar conforme sua força.
-Pronto. Você já pode enxergar. Bem vinda ao nosso mundo das luzes!

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